domingo, 29 de abril de 2012

Brasil Vermelho-Verde-Amarelo


Por: Beto

Há quem diga que a cidade nasce a partir do campo. Sim, pois historicamente as cidades surgem no momento em que o trabalho humano realizado no campo se acumula a ponto de poder ser trocado, ou, mais propriamente, de precisar ser trocado.

Claro que, o princípio de uma cidade como aglomeração de pessoas, como convivência, não se dá unicamente por esse aspecto. É possível conceber a cidade em sua origem como centro de prática religiosa ou como mero encontro. Grandes relações também se encontram se pensarmos na troca de informações, sede do poder, local seguro, local das trocas de mercadorias. Mercadorias por dinheiro, mercadorias por elas mesmas, mercadorias por favores, mercadorias como mitos.

Fundamentos do princípio de vida humana agrupada encontram-se ainda nos estudos antropológicos de distantes aldeias. Mas não era preciso ir tão longe. Filosofia, religião e ideologia se encarregaram de trazer o raciocínio para a vida moderna e, inclusive, de minimizar o que se encontra fora dela, enquanto vida coletiva.

Poderíamos, de maneira unânime, partilhar que a cidade é o futuro da sociedade?

Busquemos uma resposta deixando de lado a disputa por metros quadrados e partindo para os hectares.

Quantos destaques poderiam ser dados ao campo? Ainda mais se estivermos na busca por conceber nele um futuro não urbano.

Local da disputa. O que se entende por campo, por rural, precede um pensamento sobre a providência da terra, sobre a materialização através trabalho do homem e sobre a propriedade de terra. Propriedade que, hora ou outra na história, foi ocupada pela brutalidade, foi ocupada e, no advento das Leis da sociedade moderna, foram apropriadas, ou seja, roubadas.

Sim, todas elas roubadas um dia. Para depois de algumas canetadas poderem ser vendidas, o que data de 1850 no Brasil. As terras. Motivo principal de nossa colonização. A riqueza que proveria da terra foi o estopim de um processo que dilacerou os vínculos da espécie humana com a terra em várias regiões do mundo e no Brasil, através da colonização.

Impôs-se à terra uma mutilação. Permitiu-se a propriedade e o trabalho, e definir com precisão onde isso ocorreu é quase impossível. Grande parte do mundo vê hoje as identidades territoriais manifestadas num espaço construído. E este cada vez menos é um espaço do camponês, que no mundo atual dá lugar ao agronegócio.

O mês de abril no Brasil é esclarecedor e nos ilustra. (Na mesma medida em que demonstra nossa cegueira quanto ao assunto).

Ao longo do abril vermelho um dos maiores movimentos sociais do mundo ocupa, reivindica, invade terras. Denuncia os descaminhos e as mais profundas contradições do espaço rural. Nenhuma alma, a mais reacionária que exista, iria ser contrária ao MST se não o analisasse unicamente pelo ponto de vista da propriedade, que com toda justiça o movimento vêm reivindicando nos dias recentes. Pois o MST reivindica também a vida.

Vida às crianças. Vida a terra. Não uma terra a serviço da cidade. Não uma terra que nem mesmo dá conta de matar a fome da cidade, produzindo “para a entrada dos dólares”, argumento repetido sem fundamento, na medida em que não se faz compreender.

Cabe destacar que, espremidos nas terras da exportação e das máquinas de seus proprietários, os camponeses são aqueles que ainda dão de comer às cidades. Aos filhos da cidade.

Mas voltando aos reacionários, o MST reivindica também uma cultura, um modo de ser. O que carece na leitura de muitos daqueles que carregam as mesmas bandeiras vermelhas aqui nas praças e avenidas da cidade, reivindicando o proletariado.

Todo brasileiro deveria estar, no mínimo ciente das reivindicações do abril vermelho promovido pelo MST. Disputando a sociedade e pensando na vida. Pensando numa possível vida além das cidades. Reivindicando vida para o camponês. Isso é compromisso.

Bem, terminaria esse argumento aqui, mas os dias últimos desse peculiar abril brasileiro nos reservou uma surpresa relacionada ao tal código de conduta sobre nossas terras ainda cobertas. Aquelas mais vivas. (Note que o que se reivindica sempre é vida). As florestas!

Campo coberto. Esse sim o mundo urbano se preocupa um pouco mais. O que se viu foi claro, apesar de os detalhes serem esclarecedores e merecerem sua atenção. Sim ao Novo código significava sim aos desmatamentos e sim ao perdão a quem desmatou no passado. O sim venceu, mas não essa a surpresa.

A sociedade num lampejo diz “Veta Dilma!”, transcendendo setores e classes. Se marcar, tem ator global de novo na parada.

Mas vá além, presidenta. Não se esqueça do abril vermelho.
Pois ele é prioridade.


domingo, 15 de abril de 2012

30 anos de uma democracia!

Por: Junior



Na segunda metade do século XX a America Latina era dominada por tiranas ditaduras militares. Golpes de Estado eram apoiados pelo Governo Ianque que em troca exigia apoio total durante a Guerra Fria.
No Brasil, mais precisamente em 1982, apesar do AI-5 não vigorar mais. Ainda não se votava para Presidente, mas já era possível sentir um clima de abertura poiltica. E após 18 anos os Brasileiros iriam as urnas eleger os Governadores de seus Estados. Mas só o povo unido, organizado, tomando as ruas, poderiam enfim sepultar a ditadura. O Movimento das Diretas-Já começava a surgir e paralelo a tudo isso num terreno de alguns milhares de metros quadrados na Zona Leste Paulistana, respirava-se Democracia, e talvez fosse ali no Parque São Jorge o único lugar no Brasil onde se vivia um regime democrático.
Os "cabeças" do Movimento, o diretor de futebol e sociólogo, Adilson Monteiro Alves, e os jogadores Wladimir, Casagrande e o Saudoso Doutos Sócrates, não concordavam como se davam as relações de trabalho dentro do futebol, e organizaram um Movimento revolucionário que pregava decisões Democraticas e um relacionamento mais profissional e sincero. Esse Movimento ficou conhecido como Democracia Corintiana.
O Futebol é um meio muito retrógrado, apegados ao poder a cartolagem procura alienar os atletas que apesar de todo dinheiro que ganham de todo glamour da profissão são na imensa maioria ignorantes. E como os jogadores se deixam levar, acabam não sendo tratados como profissional e cidadão com deveres e direitos, com responsabilidade e liberdade. Contra isso que surgiu o Movimento Corintiano.
E deu muito certo, o Corinthians se tornou o time da moda, falado, discutido, debatido.
Como um grupo de trabalhadores tinham a audácia de ter voz em plena ditadura?
Tudo era votado, das novas contratações do Clube, ao horário que deveriam viajar ou se deveriam ou não ficar concentrados. A camisa do Clube que agora é suja cheia de publicidade, era usada para recados políticos e os jogadores se posicionavam politicamente, chegando até a se filiar a Partidos.



Só que tres fatores foram determinantes para o sucesso da Democracia Corintiana. Em primeiro lugar o local, dificilmente o Movimento teria tanta repercussão se acontecesse fora do eixo Rio-SP. Movimento se passou em SP e no Corinthians um dos Clubes mais populares e midiaticos do Brasil.
Em segundo lugar os resultados, o time conseguiu ganhar titulos. Fazendo que seus difamadores que chamavam o Movimento de Anarquia Corintiana, não tivessem argumento para atacá-la.


E em terceiro lugar, e talvez mais importante a situação politica do pais, num pais que vivia sob a batuta da ditadura. É difícil imaginar um local de trabalho onde todas as decisões eram decididas no voto. Um lugar assim continua sendo difícil de imaginar agora 30 anos depois.
Não é também nenhum exagero dizer que a Democracia Corintiana era um dos empurrões que faltavam para o Movimento das Diretas-Já ganhar apoio popular. Em 1984 com o Movimento Corintiano já consolidado, um dos principais apoiadores do Movimento, o narrador esportivo Osmar Santos era o "locutor das Diretas" nos atos que tomavam as ruas das principais cidades Brasileiras, atos que também tinham a presença dos jogadores Corintianos.



Apesar de todo glamour popular o Movimento das Diretas-Já foi derrotado no Congresso, frustrando assim o sonho de milhões de Brasileiros, na esteira dessa derrota do povo. Infelizmente o Movimento Corintiano perdeu força e acabou. A troca do Presidente do Clube e a saída do Doutor Socrates... que foi jogar na Italia cumprindo uma promessa de deixar o Brasil caso não pudesse votar para Presidente, foram os principais fatores para o fim da Democracia Corintiana. Só que ela não morreu, hoje qualquer pessoa que gosta um pouco de politica e futebol, sabe da existência e da importância do Movimento Corintiano. Que 30 anos depois continua sendo debatido, discutido, lembrado em livros e filmes.
Só 5 anos depois em 1989 os Brasileiros puderam eleger Presidente. Embora o primeiro resultado das Diretas parecer desastroso, a vitoria de Collor. Mas vamos ser otimistas o Primeiro resultado das Diretas foi o impeachement de Collor, com o povo voltando as ruas para tira-lo do poder.



A Democracia Corintiana se foi sem conseguir revolucionar totalmente o reacionário Futebol Brasileiro como se prometia. Mas aquele time entrou pra história.
Salve as verdadeiras Democracias...
Salve a DEMOCRACIA CORINTIANA!

terça-feira, 3 de abril de 2012

Nova Luz?


Por: Junior



Desde de moleque ouço falar do "Projeto Nova Luz" na revitalização do Bairro da Luz.
Entra Prefeito, sai Prefeito não importa o Partido. Projetos e mais projetos são apresentados e nunca colocados em prática.

A Luz é um Bairro de algumas dezenas de quarteirões no meio do Centro, que já foi uma das áreas mais importantes da cidade. E que nas últimas décadas se tornou um dos lugares mais depreciados da Capital Paulista.
Por lá décadas atrás tinhamos uma Rodoviaria, a Estação de trem (ainda muito importante) era a Central do Brasil Paulistana, O Parque da Luz antes da ascensão do Ibirapuera era o mais importante da Cidade, havia eventos culturais diariamente por lá e nas esquinas da chamada "boca do lixo" eram rodados centenas de filmes.
A rodoviária foi desativada, fazendo os comerciantes mudarem para Bairros próximos (Bom Retiro, Brás, Santa Cecilia). Se perdeu a linha da cultura e deixaram de produzir filmes por lá. E a Luz se tornou sinônimo de roubos e prostituição.
Chegou a década de 90 de todos fomos apresentados ao crack... e o crack fincou o cachimbo no Bairro da Luz.
Agora além de trombadinhas, prostituição, a Cracolândia era o novo elemento do Bairro.
Prostitutas para serem exploradas, droga barata lucrativa, dinheiro fácil... nem preciso dizer que a polícia entrou de cabeça nos negócios.
A Cracolândia ficou famosa, a PM pra não perder sua participação nos lucros fazia vista grossa e pro Governo sempre foi comodo a existência dela, porque sabia onde estava o problema.


Mas lembra do "Projeto Nova Luz"?
Apesar de tudo o Bairro da Luz tem uma ótima localização, e as contrutoras pensando em seus projetos imobiliários começou a cobrar do Governador e do Prefeito, que o projeto fosse colocado em prática. E como as construtoras pagam grande parte das campanhas eleitorais...


Primeiro tivemos o incêndio mal explicado da Comunidade do Moinho. Uma Favela que foi erguida na beira da linha do trem, e que anos a Prefeitura tentava destruir, e nos últimos dias do ano. Um incêndio muito estranho destruiu totalmente aquela Comunidade, deixando centenas de famílias sem um teto. O fogo, como em outras favelas... foi a forma usada pra expulsar os moradores.
Moradores que até agora não tiveram a assistência nescessária.
Começou 2012 e após uma grande campanha demagogica apoiada por setores da imprensa. Decidiram que chegava a hora de exterminar a Cracolândia.
Policiais armados até os dentes, viaturas cantando pneu, cães, bombas, helicópteros...
Do outro lado... Dependentes quimicos, doentes, esqueléticos, perdidos, desorientados, sem rumo, sedentos por ajuda.
Cenário de guerra, todos eram suspeitos... eu andando pela Luz tive o desprazer de tomar um enquadro da PM.





O resultado dessa ação?
Não resolveram os problemas dos doentes!
Não resolveram o problema do Bairro!
Não prenderam os verdadeiros traficantes!
Prenderam sim, os peixes pequeno... usuários  que trocavam sua mão de obra por um punhado de pedra!
Quase 3 meses depois dessa ação covarde do Governo,  prometido Centro de apoio social ao dependente químico. Recentemente inaugurado e, obviamente, com estrutura abaixo da necessária, o Centro saiu com atraso, muito após o início da intervenção policial que, por sinal, completa três meses hoje. 
Assim, a ação só serviu para espalhar a Cracolândia pelas ruas próximas.
Como se vê em uma pichação na Avenida São João:
"Não adianta maquiar, a Cracolândia anda!"



Esse ano é um ano eleitoral e tudo que for feito supostamente pelo bem comum, pelo bem da população, servira apenas para garantir votos para quem as planejou.
A tal revitalização da Luz pode até sair do papel, daqui 10, 20, 30 anos...
E o Bairro ficar melhor do que é hoje.
Mais nada sera feito pelo bem das pessoas, pelo bem da povo.
Mais sim por politicagem, pelo bem do Capital!