sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Sou daqui...

Por: Júnior



Nasci, cresci,"estudei", trabalhei, fiz amigos, inimigos, me dei bem, me fudi... tudo aqui!
Nunca passei muito tempo longe dessa cidade.
Dizem que juntando a Região Metropolitana, somos 20 milhões de habitantes ou melhor 20 milhões de "amontoados".
Trânsito, caos, violência urbana, poluição, enchentes, stress, transporte público cada vez mais lotado e caro, desigualdades, pontes estaiadas que servem mais para "embelezar" os cenários da Globo do que para desafogar o trânsito... tudo isso é típico do dia-dia de um paulistano, mas quem é esse paulistano? Em que bairro ele mora?... Impossível de explicar!

Ele pode ser o senhor que tem uma barbearia há mais de 40 anos perto da Pça da República, ou a negra que trança cabelos na galeria do rock. Pode ser os "manos" que trabalham nas barracas de flores da Dr. Arnaldo ou do Lgo. do Arouche, o rapaz que deixa balas no seu retrovisor em algum cruzamento ou até o aposentado que ganha um extra trabalhando de plaqueiro na Barão de Itapetininga.

Penha, Itaquera, Aclimação, Sapopemba, Tatuapé, Butantã....

Ele pode ser o imigrante que é Chefe de restaurante, o jornaleiro que tem uma banca em frente a um prédio ocupado por sem-tetos na Av. São João. Os nigerianos que ficam fazendo sei lá o que na Av. Rio Branco. Os pichadores que escalam prédios para fazer sua arte. A moça de 20 e poucos anos, moradora de Ermelino Matarazzo que deixa os 3 filhos com sua irmã de 13 anos, porque não conseguiu vaga na creche, ou a "mina" da mesma idade moradora dos Jardins que passa o dia todo passeando no shopping, ou até o estudante de alguma Uni... qualquer coisa que fala um "paulistanês" típico da Moóca.

 Pirituba, Piqueri, Perus, Pery, Pari, Pinheiros...



O japonês que frita pastel numa feira livre da Casa Verde, o baiano morador do Itaim Paulista que prepara sushi em Moema, ou o "mano" do churrasco grego no Lgo 13. O português da tradicional padaria da Consolação. O vendedor de uma ótica que aborda um bancário apressado na Rua São Bento. O cara da Pompéia que vai até a Vila Olímpia ouvir "putz-putz" e pagar 20 conto numa vodka, ou até o cara da Brasilândia que "trampa" num telemarketing na Barra Funda e "cola" num funk há poucas quadras de casa e toma "maria-mole" de 2 conto.

 Jabaquara, Jaguaré, Jaguara, Jaraguá...

Bolivianos escravizados por coreanos, o pipoqueiro da Pq. da Água Branca, o assassino que virou pastor, o chinês que trabalha junto com nordestinos na 25 de Março. O ascensorista que nas horas vagas é "camisa 10" na várzea, a frentista que no Carnaval é rainha de bateria. O paraense que limpa vidraças no Itaim Bibi, o maranhenense que acaba de chegar para dar um "trampo" na construção civil ou até o PM que vai numa biqueira em Heliópolis pegar o "arrego" da semana.

 Tatuapé, Cachoeirinha, Santana, Grajaú...

A estatua viva do Viaduto do Chá, os milhares de engravatados "bem-sucedidos" que andam apresados pela Avenida Paulista, a baiana que frita teus quitutes na Pça da Sé, o "basqueteiro" que bate uma bolinha onde era o Carandiru, o empresário que treina para a São Silvestre no Ibirapuera. O catador que separa e leva para reciclagem seu lixo, porque você não tem "paciência" para fazer isso, ou o "mano" que fuça seu lixo procurando alguma coisa para comer. A garota que vem do interior estudar na USP, ou o cara que faz o caminho inverso e se forma no interior. Ou até as mães que vão visitar os seus filhos no Centro Provisório do Belém ou em alguma unidade da Fundação CASA.

Freguesia do Ó, Tucuruvi, Pompéia, Ipiranga, Limão...

Como diria Mano Brown... Ratatatá, mais um Metrô vai passar.
Com gente de bem, apressada, católica. Lendo jornal, satisfeita, hipócrita.
Com raiva por dentro, a caminho do Centro.



Centro dos adictos, que dividem espaço tranquilamente com os "mano" das carroças de papelão pelas ruas da Cracolândia, ou o hippie que tenta vender seu "trampo" no Anhagabaú.. Pode ser as meninas que de uma hora para outra ficaram "famosas" por praticarem pequenos furtos na Vila Mariana. Os quatro operários que disputam uma animada partida de truco no último vagão do trem. As duas diaristas que indo para a casa da patroa no Sumaré discutem o último capítulo da novela. O judeu que anda de cabeça baixa pelas ruas de Higienópolis ou até as mulheres que se "vendem" no Lgo do Paissandu ou no Pq. da Luz.

 Capão, Paraisopolis, Santa Cecilia, Remédios, Canindé...

Pode ser o mano que "cuida" do seu carro no Morumbi, a garotinha que tenta ti vender chiclete enquanto você toma uma gelada na Vila Madalena, as sacoleiras da feira da madrugada no Brás ou o vendedor de DVD pirata no Viaduto Santa Efigênia, a italiana que prepara a "pasta" em alguma cantina do Bixiga ou até o mano que é acordado as 4 da manhã porque a ROTA achou "prudente" matar 6 caras que tentavam arrombar um caixa eletrônico no seu bairro.

Taipas, Lapa, Jd. Brasil, Saúde, Bela Vista, Perdizes, Vila Guilherme...

Rua Augusta, punks, skins... varias tribos, e até uma procissão cristã as 2 da manhã.
Pode ser o motoboy que corta a cidade a semana toda e no fim ganha um extra entregando pizza. O caminhoneiro que fica horas preso no trânsito  porque a prefeitura achou "interessante" fazer um corrida automobilística numa segunda chuvosa na Marginal Tiête. O médico, o vigia, o taxista, o advogado que se juntam num animado "porópópó" numa tarde fria no Pacaembu, o comerciante que arruma tempo pra tocar numa banda, ou a professora que está internada porque dar aula cada vez mais mexe com seus nervos, ou até o nortista que na Rodoviaria do Tiete está voltando pra casa desiludido, mais consegue levar um microondas e uma TV pra sua mãe.

Eu esqueci de muita, muita gente...
A imagem dessa cidade se modifica conforme as lentes que utilizamos. O sonhado e o real, o desejado e o rejeitado, vivido e simbolizado, o cantado e o pintado, o desvairado e o cotidiano; múltiplas facetas de uma cidade/país.
Falar dessa cidade e não cair nos "clichês" é meio difícil...
Selva de pedra, terra da garoa, cidade que não para, locomotiva do Brasil, todos os sotaques... Todas as raças, cidade que abraça todos de braços abertos.



Vivo dizendo que tô de saco cheio de morar aqui, que qualquer dia largo tudo e vou embora.

 
 Mais será que consigo viver sem tudo isso?

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